quinta-feira, 10 de julho de 2008

As dificuldades de um artista novo (ou não)

Um amigo me enviou o recorte abaixo, não é uma notícia nova, mas exemplifica bem as dificuldades que muitos encontram para expor seus trabalhos e a maneira muito criativa que estão encontrando para driblar esses problemas. O que vc acha?

Estratégias para chegar ao público

Mercado restrito leva artistas a criarem canais alternativos de divulgação e venda dos seus trabalhos

Camila Molina

Transformar a própria casa em galeria ou reunir grupos de artistas para que façam de seus ateliês espaços alternativos com cursos, salas expositivas e local para venda de obras não é novidade, mas são algumas das estratégias necessárias, já que o fechado circuito artístico de São Paulo não dá conta de tantos criadores que querem, de forma legítima, viver de sua produção. ''Os critérios do sistema não são claros. Visito há anos ateliês de artistas e compartilho da dificuldade deles'', diz Katia Canton, curadora do Museu de Arte Contemporânea da USP e de projetos independentes, além de escritora. ''Um ateliê não consegue ser auto-sustentável apenas com cursos'', diz ainda Katia, que participou da criação do Círculo 3 Espaço de Arte, na Vila Madalena, coordenado pela artista Regina Carmona. Instalado na casa onde já ocorriam as atividades do Atelier Piratininga, que tem 15 anos de trajetória (9 deles no endereço atual na Rua Fradique Coutinho), o Círculo 3 é formado pelos integrantes desse grupo de gravadores, coordenado por Ernesto Bonato, como também os do Espaço Coringa e do Estúdio Diálogo de design. O Círculo 3, enfim, não é apenas uma sala para expor trabalhos, mas um agente de atividades cooperativas em que os artistas são os proponentes.

''O Atelier Piratininga já existia havia bastante tempo. Então, pensamos: por que não fazer uma galeria no espaço?'', conta Regina. De uma conversa entre amigos, entre os artistas e a curadora Katia Canton, surgiu então, no fim do ano passado, a vontade de criar o Círculo 3. As atividades do espaço colaborativo foram iniciadas em janeiro e, em março, foi inaugurada a exposição Perto dos Olhos, com curadoria de Katia. ''Entrei para ajudar a dar uma identidade ao espaço. Depois, eles mesmos dariam seus próprios passos'', conta a curadora. Para falar de identidade do Círculo 3, deve-se levar em conta o fato de o espaço ser pequeno e convidativo para promover a ''proximidade'', entre artistas e público; ser abrigado em ''um lugar privilegiado, em frente da Livraria da Vila''; e ter como fonte principal o gênero da gravura em ''suas variações contemporâneas'', enumera Katia.

A mostra Perto dos Olhos teve também programação de visitas guiadas e de conversas com artistas aos sábados. Como parte desse projeto inicial, a curadora propôs uma trilogia de mostras com a rede de artistas do Círculo 3: Perto dos Olhos, Perto das Mãos e Perto da Fala. O projeto, segundo Regina, foi inscrito na Lei Rouanet, mas ainda espera aprovação. A mostra Perto dos Olhos já está itinerando - está em Araraquara e depois segue para São Carlos. Além disso, o Círculo 3 vai dando seus passos com uma programação de mostras - a próxima, Entretira, será aberta em agosto - e uma série de atividades e cursos que podem s consultados no blog atelierpiratininga.blogspot.com. ''Tá difícil ainda ter retorno com vendas das obras, mas estamos começando'', diz Regina - é possível encontrar obras de grande qualidade por preços que variam de R$ 200 e R$ 1,5 mil cada uma.

O Ateliê 397, na Rua Wisard, também se divide entre produção e exposição. O ateliê foi aberto no fim de 2003 como estúdio dos artistas Rafael Campos Rocha, Silvia Jábali e Bruna Costa - formado por duas casas, tem o corredor que as liga transformado em espaço expositivo para artistas convidados ou que fazem contato pelo site do ateliê (www.atelie397.com). ''A idéia sempre foi esse, ser um local de exposições em caráter experimental, a céu aberto'', diz Silvia, que desde 2006 comanda o ateliê ao lado de Marcelo Comparini. ''Sempre sentimos a dificuldade de acesso de artistas'', afirma Silvia. Como ela conta, sempre tudo está à venda no local. ''Colocamos apenas 30% para a gente e não cobramos nada para expor.''

PAREDE DE ALUGUEL

A provocação da Xiclet, que desde 2001 transformou sua casa em galeria, já se tornou até mesmo parte do circuito artístico ao fazer a brincadeira da contraposição entre ''os ricos e pobres'' do sistema - por exemplo, já são esperadas as mostras realizadas no local, paralelamente às edições da Bienal de São Paulo, com títulos paródicos ao grande evento (a deste ano, em outubro, vai se chamar Bienal Tô Cheia. ''Institucionalizaram a gente, sem que a gente tenha mudado nada do nosso funcionamento '', diz a artista capixaba, ex-monitora de exposições. Ela cita que agora até perde a conta de quantas vezes a Casa da Xiclet aparece na mídia e ainda lista nomes de curadores, colecionadores e ''olheiros'' que volta e outra aparecem na galeria. ''É fácil comprar obra em galeria grande, porque é tudo grife. Já para comprar aqui, tem de conhecer'', diz a Xiclet - lá há de tudo.

Assim, a Casa da Xiclet é apenas um espaço para a divulgação dos trabalhos de artistas que se inscrevem pela internet para lá exporem ou são indicados por amigos. ''Tem obra que eu nem gosto, mas exponho. Não estou para julgar, mas para dar um espaço organizado e de divulgação'', afirma.

Na casa dela, todos os espaços são expositivos - seu quarto de dormir, o jardim, todas as paredes possíveis. ''A casa é minha obra'', diz ainda a artista, que também expõe suas criações. Para manter a iniciativa e sobreviver, há amigos que colaboram com a casa e há uma lista de preços para os artistas alugarem os espaços. ''Cada parede tem um valor.'' Um pedaço da sala de estar pode custar R$ 400 ou uma sala inteira, como a que a turma da recém-inaugurada mostra SER Urbano (o trabalho também pode ser visto no blog serurbano.mao.art.br) usa, sai por R$ 2 mil.

Já no E.D.E.Nº 343, espaço de cursos coordenado por Tania Rivitti e Juliana Monachesi, juntaram-se agora, com a mostra Intimidade Pública, as vontades de se oferecer um local expositivo com o de proporcionar a aspirantes a curadores a oportunidade de montarem uma mostra. A exposição com obras de 16 artistas (destaque para Flávia Sammarone) é fruto do trabalho dos alunos do curso Reflexões Sobre a Prática de Curadoria.


Serviço

Círculo 3 Espaço de Arte.Rua Fradique Coutinho, 934, tels. 3578-5212 e 3869.9785 . 2.ª a 6.ª, 14 h às 18 h; sáb., 14 h às 16 h (confirmar antes). Em cartaz: Gráficas - Cuba e Brasil. Até 20/7

Casa da Xiclet. Rua Fradique Coutinho, 1.855, tel. 8420-8550. 2.ª a 6.ª, 10 h às 20 h; sáb., dom. e feriados, 14 h às 18 h. Em cartaz: SER Urbano, Sem-Título, na Sala de Estar e Felipe Dib Adonis. Até 7/8

Ateliê 397. Rua Wisard, 397, tel. 3034- 2132. 2.ª a 6.ª, 13 h às 19 h. Em cartaz: Equal, de Daniel Steegmann. Até 18/7

E.D.E.Nº 343. Rua Lisboa, 285, tel. 3063-2299. 2.ª a sáb., 10 h às 18 h. Em cartaz: Intimidade Pública. Até 26/7


(Ronaldo B M)

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