sexta-feira, 18 de julho de 2008

Manifesto acerca dos Salões de Arte

O Jonathan mandou essa mensagem p nós qdo leu o post sobre as estratégias do artista para expor seu trabalho...achei interessante, pois trata principalmente do uso da verba do PAC...leia e opine!


O PAC deve incentivar a Arte e não o Artista

Tive ocasião de estar presente na inauguração e premiação do Salão de Atibaia 2008. Pelas circunstâncias desse fato me vi envolvido em toda uma problemática tal repetida e presente em toda a minha vida profissional (hoje tenho 75 anos e o primeiro salão que participei Salão Nacional Rio de Janeiro 1956 – 3 obras).

Acompanhando uma jovem expositora que participava do Salão a mesma foi surpreendida da forma com que foi apresentado seu trabalho que alterava o conteúdo e a linguagem do mesmo. Sua primeira reação ao constatar o fato era de retirar o trabalho da exposição. Eu a aconselhei a não fazê-lo e para acalmá-la tentei justificar os aspectos negativos. Assisti a premiação e o seu decorrer num clima de expectativa e frustração. Sem mais acontecimentos, voltamos para São Paulo com a perspectiva de encarar o caso como encerrado. Porém para mim o caso estava apenas começando. Como não fazer conhecer as minhas experiências dos 50 anos profissionais e com minha pretensão persistente de ajudar a transformar o Brasil em um país mais igualitário.

Considerando a minha prática principalmente no exterior (principalmente França) vislumbro desdobrar o leque de sugestões fazendo-me necessário expressá-las. Observando os salões e os seus resultados permitiram a muitos artistas a viajarem para a Europa. Considerando a Europa e principalmente a França os Salões refletiam oficialmente os interesses do poder dominante. Artistas de qualidades incontestáveis eram recusados. Reações positivas geraram manifestações desses recusados organizando o Salão dos Recusados, dos Independentes, etc. Em conseqüência disso obteve-se paralelamente maior liberdade criativa e ocasionou-se maior número de participantes. Voltando ao Salão de Atibaia vemos repetidos fatos negativos que denunciam uma prática menos democrática da atividade cultural, como no caso de outros Salões em que muitos concorrentes se vêem impelidos a participar do mesmo como única possibilidade de apresentar o seu trabalho ao público. As galerias canalizam uma parte restrita dessa produção, ligados a interesses outros, que não o público em geral. Poderíamos dizer que os salões é um mal necessário? Não haveriam meios mais eficazes de os artistas entrarem em contato com público? Será que as manifestações artísticas poderiam assumir novas formas se estivessem preocupados com um novo público?

O salão de Atibaia na sua prática acompanha o exemplo de outras cidades que incorrem no mesmo erro, Ribeirão Preto, Santo André, etc. Além da necessidade de se apresentar, o chamariz é o prêmio para os artistas, e um público de iniciados (os que visitam os salões) essa premiação os direciona. Rememorando, ocorreu na minha vida profissional, participei da Bienal de Asnieres no qual fizeram uma experiência que consistia em colocar uma urna para que o visitante deixasse o seu voto. Qual não foi minha surpresa vendo ao terminar a exposição que o meu quadro dos 'bóias-frias' obteve 70% da votação para o primeiro prêmio. Posteriormente o mesmo quadro foi adquirido pelo Ministério da Cultura Francesa. Podemos considerar como um fato negativo haver um prêmio único de R$ 10.000,00 e dois restantes de consolação. Seguindo essa lógica de incompreensão democrática torna inevitável que a premiação reflita outros interesses que não o grande público. Proponho para agora durante a ocorrência do Salão uma manifestação pública com as suas obras em forma de salão aberto dos recusados em frente da árvore que tem uma morte anunciada.

Gostaríamos que uma melhor utilização do dinheiro do PAC favoreça um melhor resultado cultural.

São Paulo, 06 de julho, 2008

Gontran Guanaes Netto

Ex-professor de teoria da representação no ensino superior francês.

Obras em diversos museus e coleções na Europa e na América Latina.

Nenhum comentário: